Filipe Tasbiat
Downton Abbey: uma nova era de água com açúcar, com muitos personagens e nenhuma pressa de acabar

Downton Abbey: Uma Nova Era estreou na última quinta-feira (28) nos cinemas brasileiros e eu, fã de carteirinha que sou, fui correndo assistir já no final de semana de estreia. A série, que originou o primeiro filme e a atual sequência, é uma das minhas preferidas e nunca acabou, de fato, para mim. Isso porque considero Downton Abbey um dos meus clássicos contemporâneos e, como tal, ela tem o poder de permanecer interessante mesmo ao ser revisitada uma, duas, três vezes. No meu caso, assisti toda a série, provavelmente, umas seis vezes. Antes de falar sobre o novo filme em cartaz, vale dizer que sou muito mais fã da série do que do primeiro longa-metragem – que é muito bom, embora não magnânimo. O mesmo pode ser dito deste Downton Abbey: Uma Nova Era. Mas há algo diferente agora.
Se, no primeiro filme, são os habitantes reais do Palácio de Buckingham que se despencam até o casarão de campo do conde de Grantham, nesta sequência quem bate à porta da família Crawley são os astros e as estrelas de Hollywood. A receita de sucesso do primeiro filme (e não me refiro aos agradáveis números da bilheteria) é a mesma. Mais uma vez, vemos o casarão recepcionar um evento grandioso, o que me fez pensar que nos encontramos a um ou dois longas de testemunhar o casarão de Downton Abbey sediando os Jogos Olímpicos ou a primeira Copa do Mundo (que, aliás, ocorreu em 1930, mesma época em que se passa a história... alô, Julian Fellowes!). Brincadeiras à parte, a escolha é um atrativo e tanto para movimentar o suntuoso cenário que já conhecemos e, ao longo do percurso, se mostra uma decisão ousada, uma vez que coloca as personagens em situações até então inimagináveis, não somente para os próprios personagens, mas também para o público.
O novo Downton Abbey é hilário, leve e comprido como se espera que seja, uma vez que a longa duração é uma assinatura não só do filme anterior, mas da série inteira, acostumada a contemplar seus espectadores com especiais de Natal de uma hora e meia e olhe lá. Para quem não é fã, talvez isso seja um problema. Mas, para os fãs que forem ao cinema revisitar os cômodos e as galerias suntuosas do casarão e os queridos personagens que os habitam, cada minuto é um deleite repleto de diversão e nostalgia.

Além disso, a estrutura do filme, que precisa dar conta de dezenas de personagens e, de quebra, vencer o desafio de dar tempo de tela à alguns nomes do elenco que ficaram apagados no filme anterior (como Cora, Baxter, Denker e o sr. Mason, por exemplo), pode causar algum estranhamento. Isso porque Downton Abbey: Uma Nova Era acaba sendo mais uma obra de muitos coadjuvantes do que um filme de muitos protagonistas. Lady Mary (Michelle Dockery) é uma forte candidata ao cargo de heroína, mas, assim como acontece na série de televisão, a história não gira necessariamente em torno dela.
Em alguns momentos, sobretudo no primeiro terço, o filme se parece muito com uma sequência de vários curtas-metragens inusitados e despretensiosos. "O sr. Carson vai à França", "Um Encontro na Chapelaria" e "Lady Mary Inventa a Dublagem" poderiam ser os títulos de alguns desses curtas. No segundo e terceiro atos do filme, as pequenas histórias vão sendo costuradas dentro da big picture e encontrando seus lugares. No fim, o filme entrega bons momentos, alguns impagáveis, e concretiza algumas previsões imaginadas desde o longa anterior.
Downton Abbey: Uma Nova Era é uma grande história com um roteiro água com açúcar, sim, mas com um texto impecável e excelentes atuações. O ritmo, um pouco lento, até pode desagradar alguns, mas, paralelamente, resgata o tempo dos filmes antigos, os clássicos em preto e branco dos anos 1950 e 1960, que seguiam um relógio menos apressado do que os títulos mainstream da indústria audiovisual de hoje. Melhor que o primeiro, este novo Downton Abbey é um filme que não tem medo de ser despretensioso nem pressa de acabar. Acho que tudo isso fará desta continuação uma obra tão clássica quanto a série que a originou. Não sei vocês, mas, quando sair no streaming, eu certamente vou rever. Mais de uma vez.
